"A chuva caía lá fora. Eu observava-a atentamente enquanto rascunhava umas quantas linhas a carvão num papel preto. Não que fizesse diferença, a ideia não era fazer algo visível mas algo sentido. As coisas sentidas nunca são visíveis, certo?
Continuava a chover quando eu tive de sair de casa. Pus um pé fora da porta e logo depois o outro com uma rapidez imperceptível. Mas em vez de andar mais, fiquei ali a apreciar a chuva. A maneira como esta me caía na cabeça, a maneira como ela ia das pontas do meu cabelo para a minha camisola e por aí em diante. Era uma sensação demasiado boa, não me queria mover. Mas avistei o autocarro ao longe e corri o máximo que pude até à paragem.
Perdi o autocarro. Não me importei muito, podia telefonar a alguém para me ir buscar e pôr à escola. Mas hoje não. Hoje estava a chover.
Comecei a caminhar na direcção da escola até lá chegar. Não me arrependi da uma hora que levou até passar aquele portão.
Existem poucas pessoas como eu, capazes de fazer tanto... Por tão pouco. Há que fazer uma pausa de tudo o que é obrigação. Há que fazer uma pausa da rotina de vez em quando ou morremos sem termos verdadeiramente apreciado a vida."
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