Cidade
Sem
problemas, consigo admitir que a minha vida não é perfeita, tem algumas falhas.
Mas não posso simplesmente afastar os meus defeitos. Eles nasceram dentro de mim e
vão ficar. Sou uma pessoa que tem medo de imensas coisas, de tudo o
que me possa afectar, para dizer a verdade. Talvez por ter sido abandonada pelos meus pais quando era pequena, ou por aquela vez em que me fecharam no balneário de um museu numa visita de estudo à dois anos, ou até mesmo por aquela vez que vi a minha vizinha do lado esquerdo cair da janela para uma morte certa,...
Só
há duas coisas das quais eu não tenho medo. Do meu amigo imaginário Bryan e dos
livros. Eu sei, eu sei. "Amigo imaginário"? Ainda por cima quando eu tenho 16 anos e vivo sozinha, seria de esperar que fosse mais matura mas...
-
Bom dia, dorminhoca! Vá lá, toca a acordar! – Exclamou Bryan.
...viver
numa casa sozinha com um amigo imaginário nunca fez parte dos meus planos.
Ainda não tenho a certeza do que Bryan é. Se é um amigo imaginário, como podia
ele ter tanta vida própria? Por vezes, eu queria alguém para me reconfortar e
ele nem aparecia. A ideia de Bryan ser um espírito era igualmente credível. Mas
eu já me tinha deslocado à câmara municipal e não existe nem existiu nunca ninguém com o
nome de Bryan Stark.
-
Deixa-me em paz. – Respondi revirando-me na minha cama. Tinha medo de cair. De
rebolar de mais e de dar de caras com o chão, duro e sujo, à minha frente. Por
isso parei de me mexer e franzi o sobrolho.
-
Por vezes pergunto-me se não poderias pensar em ser um pouco menos rude. –
Disse Bryan com um dedo na boca.
Considero-o
um irmão. Não que ele seja igualzinho a mim, mas não podia negar que tínhamos
algumas parecenças.
Bryan
tem o cabelo ruivo e encaracolado. Tem olhos cor de mel e é bem estruturado. É
alto, como eu tinha concluído após o medir, com os seus grandiosos 1,80 metros.
É engraçado, simpático, fanático por horas de sono excessivas nos piores
momentos, temperamental e esperto.
Eu
tenho o cabelo ruivo e encaracolado, tal como ele. Tenho olhos verdes e tenho
sardas até dizer chega. Sou baixa, meço 1,60 metros… Sou simpática (quando não
estou de mau humor), sou fanática por horóscopos e por tudo o que é relacionado
com a leitura de destinos, sou curiosa, perfeccionista e esperta.
Podia
estar a ser convencida mas estou apenas a retratar a realidade.
-
Por vezes pergunto-me porque não me dizes o que és…- Respondi, espreguiçando-me
toda.
- A
essa pergunta eu sei responder. Não te digo para que acordes todos os dias a
pensar no que poderei eu ser. – Sem sequer pestanejar, Bryan pronunciou a frase
com tanta clareza e sem sequer balbuciar que me surpreendeu.
Sim,
de certeza que, se toda a gente o pudesse ver, nos tomariam como irmãos. Tenho
consciência de como é ter um irmão da mesma idade e tenho
a certeza absoluta que o Bryan era como um.
-
Tenho de me vestir e ir tomar o pequeno-almoço. Podes sair por um bocado? –
Perguntei. Nós até podíamos ser muito chegados mas eu tinha vergonha de me
despir à frente dele. Não me importo que ele tente ver à socapa. É diferente.
-
De certeza que não tens medo das roupas? – Perguntou ironicamente Bryan. Sim,
ele tinha noção de todos os meus medos. Não tinha sido um erro contar-lhe
porque ele, apesar de nesta manhã estar a ser um parvo, normalmente até era
bastante compreensivo.
-
Não gozes. Vai te lá embora! – Respondi.
Ele virou-se ainda com um sorriso na cara e dirigiu-se
até à porta. Abriu-a e fechou-a pousando os olhos nos meus até a porta se
fechar completamente.
(Peço que não retirem nada destes posts
assim pois é da minha autoria. É algo em que tenho vindo a trabalhar e, mesmo
que não percebam nada, prometo que todos os dias tentarei publicar uma página
ou um capitulo. Espero que me acompanhem nesta jornada.)
1 comentário:
Fiquei boquiaberta!! Adorei! Está mesmo muito bom, tens muitíssimo jeito, parabéns!! :D
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